Historicamente o ser humano busca o
prazer em sua rotina. E essa liberação de prazer, bioquimicamente falando, está
ligado intimamente à um grupo de substâncias liberadas no cérebro: serotonina, endorfina,
dopamina.
Algumas substâncias ou situações podem
aumentar o nível dessa liberação: estar com quem se ama. Brincar. Fazer o que
se gosta. Carinho. Comida boa. Comida não tão boa para o corpo, principalmente
as mais estimulantes, como açúcar, gordura e sal. Drogas ilícitas ou lícitas (como
remédios para depressão, álcool).
A grande maioria das pessoas consegue
usar essas substâncias que liberam um nível maior e mais rápido desses
hormônios e usufruir esse prazer, sem necessariamente ser um problema para sua
saúde. Muitas pessoas bebem socialmente. Muitas pessoas consomem as “besteiras”
de vez em quando, e tudo bem, sem problemas! Talvez você, adulto que lê esse
texto, coma coisas apenas pelo bel prazer de comer. E isso é saudável (nunca se
entregar ao prazer não é saudável!).
Mas tem a turma que abusa. E o abuso
pode trazer consequências. Consequências variadas! Um corpo não sadio e um
desequilíbrio de nutrientes consumidos (pense em alguém que bebe com frequência
e tem seu estoque de vitamina B diminuído, ou alguém que come tantos doces que
não sobra apetite para os vegetais, frutas e legumes) ou consequências graves
(alcoolismo, onde grande parte das calorias vem do álcool, e isso é pernicioso,
inclusive socialmente ou uma alimentação baseada em açúcar, onde as calorias
vem basicamente do açúcar e daí, falta muito nutriente para manter uma vida
saudável e isso é pernicioso para a saúde do indivíduo e custoso para a
família, que e preocupa).
Nossos filhos provavelmente vão entrar
em contato com álcool na vida deles (arghhhh rsrs). E vão entrar em contato com
o açúcar. E é sobre o açúcar que vou me ater.
O que eu posso fazer agora, para ajudar
o meu filho a utilizar essas duas substâncias que liberam prazer de uma maneira
a não atrapalhar a vida dele?
Sobre o álcool, temos muitos dados.
Sabemos, com certeza, que adiar o seu primeiro consumo faz muita diferença. O
uso de precoce de bebidas alcoólicas pode ter consequências duradouras. Aqueles
que começam a beber antes dos 15 anos apresentam predisposição quatro vezes
maior de desenvolver dependência dessa substância do que aqueles que fizeram
seu primeiro uso de álcool aos 20 anos ou mais de idade.
Parece que temos um tempo de maturidade
mais ou menos ideal para que possamos ter responsabilidade sobre o consumo do álcool.
Então, evitar o consumo até a vida adulta parece ser o caminho.
Em relação ao açúcar, e quando eu digo
açúcar, estou falando do açúcar dos doces e guloseimas, sugerimos adiar a
introdução após o primeiro (idealmente segundo) ano de vida. Bem mais cedo,
olha só rsrsrsrs.
O estímulo do paladar do açúcar é tão
potente, que a tendência de ficarmos apaixonados e os outros sabores não
interessar muito quando pequenos é grande. Na realidade, não é só o que
comemos, mas principalmente o que deixamos de comer que atrapalha nossa saúde.
Podemos ser perfeitamente saudáveis
comendo nossas porções de frutas, vegetais, cereais, etc, e um docinho de sobremesa eventualmente.
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"Por mim tá tranquilo comer esse açúcar aí depois dos dois anos" |
Mas se você é mãe ou pai, sabe como é
complexo ensinar uma criança a comer bem e de tudo. Precisa de tempo,
investimento. Se jogar contra, oferecendo logo cedo um alimento que tem um alto
poder de estímulo palatável, vai ficar difícil. É complexo apreciar a doçura de
uma maçã quando se chupou 3 pirulitos antes. E não vale me dizer que a criança
come super bem um prato de arroz e feijão. Arroz e feijão é bom, mas não é
suficiente.
E antes dos dois anos, a vontade e a
necessidade de introduzir açúcar na vida da criança é do ADULTO. Como o adulto
sabe que esse é um prazer especial, quer proporcionar à criança. Mas a criança,
antes do segundo ano de vida, não tem “vontades específicas”. Ela é alimentada,
e aceita de bom grado a maior parte dos alimentos que lhe é oferecido, nem que
seja pra cuspir depois. Ela quer provar. Mesmo o tampo da mesa, ou o sabor do
controle da TV. Veja novamente o caso do
álcool: ninguém tem dó de não servir a cerveja pra criança de 1 ano. E ninguém
se espanta se um adulto degustar um copinho de cerveja em uma festa infantil,
mas nega a criança. E nenhuma criança ficou “aguada” porque queria tomar um
gole dessa cerveja, Mas ao se tratar de refrigerante, aquele campeão de açúcar,
as frases vão do : “Tadinho”; “que dó” até “quando ele crescer vai tomar litros
de refrigerante enlouquecidamente”
Provavelmente não vai. Claro que a
criança vai crescer. E vai ter curiosidade. Pelo açúcar, socialmente aceito por
todos. Pelo álcool, socialmente aceito entre os adultos. E olha, a vida não será
fácil em relação a oferta. Vivemos num mundo obesogênico completamente disforme entre as
informações que recebemos (e que nossos filhos vão receber também). Doces estão por TODAS as partes, na
maior parte das vezes acompanhado pelo marketing do personagem favorito da
criança. Doces estão relacionados a passeios e tempo com a família. A TV passa
propagandas incansavelmente. As crianças em geral estão comendo muito pior do
que antigamente, por esse excesso de oferta de alimentos não saudáveis.
Ao mesmo tempo, precisa ter a barriga
negativa da menina famosa, o corpo sarado do ator. Tá fácil não.
Auto estima baixa por conta de modelos
irreais, necessidade de mais estímulo para o prazer, enorme disponibilidade de alimentos ricos em açúcar e voalá: a realidade cruel
que estamos vivendo: comer tá difícil.
Mas a gente tem o que fazer. Adiar esse
primeiro contato pode ser o caminho para que esse relacionamento criança x
açúcar seja mais equilibrado. E equilíbrio se dá pra todos os lados: se eu como
menos açúcar sobra necessidade calórica para que eu me interesse pelos outros
alimentos servidos pela minha família!
E você acha que é fácil tomar esse posicionamento,
de adiar a introdução de açúcar? Entre em uma festa infantil com um bebê no
colo e veja legiões de adultos querendo enfiar goela a baixo um algodão doce,
só um brigadeiro, que mal faz um gole de refrigerante?
Não, matar não mata. Mas pode sim,
prejudicar uma educação nutricional futuramente. O que custa esperar?
Quando a criança falar: por favor tio,
me dê esse brigadeiro, dê!!! Antes disso, pra quê?
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Karine e com relação ao sal? Tem algum artigo, que me norteia com relação ao seu uso? Isto porque penso na alimentação em família, que é bem estimulante para o bebê de um ano, mas afinal um salzinho vai impactar mesmo?
ResponderExcluirCurto muito suas ideias de alimentação infantil. Curti ainda mais vc ter dito q arroz e feijão não é suficiente!!!! Muita gente os inclui cotidianamente nas refeições, deixando de priorizar vegetais e proteínas, tão essenciais ao bom desenvolvimento da criança e de seu paladar!! Nada fácil ser mãe nos dias de hj, principalmente qdo pensamos nas intromissões alheias, q em nada acresecentam, pelo contrário, tentam a todo tempo nos convencer de que " só um docinho, só um biscoitinho, só um suquinho" não faz mal.
ResponderExcluirNossa, amei o texto! Como é difícil conviver como se fôssemos radicais e cheias de frescura! Estou sentindo - me apoiada! É bem isso, vale a pena!
ResponderExcluirOlá! Minha bebê tem 4 meses, por diversos motivos não amamento ela mais, ela mama aptamil 1 de 3 em 3 horas, 150ml e estava pesando 6,040kg na última pesagem! Assim que completou 3 e 15 dias a pediatra mandou introduzir suco de frutas... Eu relutei, pois sempre leio que não é mais recomendado, ainda cheguei a dar 3 vezes, dei de maçã, de laranja lima e de laranja lima com um pedacinho de cenoura! Mas entrei em contato com uma nutri infantil pelo face que disse pra não dar e me explicou os motivos, o que vc me diz? Quero muito fazer o certo pois já não tem o leite materno, queria errar o menos possível com ela! :( Obrigada!
ResponderExcluir(não estou dando o suco)
Parabéns Karine, é bem difícil educar filhos assim, eu consegui, meus filhos tem hoje 34 e 32 anos, eu criei eles assim e, mesmo depois dos 2 anos doce em casa só de domingo. Deu super certo e nunca questionaram o porquê. Hoje são adultos super saudáveis e sem problemas com obesidade. Meu netinho de 1 ano e 9 meses não come doces e não sente falta. Deu certo.
ResponderExcluirObrigada! Tudo isso fortaleceu minha ideia de adiar as guloseimas para meu filho que no momento tem apenas 1 ano.
ResponderExcluirTexto sensacional! Sou fãaaaa! Que bom seria se todos os profissionais tivessem sua sensibilidade, Amor, Carinho, sensatez! AMo de montão! Obrigada por ser tão especial. Um super beijo cheio de carinho e admiração!
ResponderExcluirÓtimo texto!
ResponderExcluirNossa que texto interessante! É muito difícil mesmo lidar com as pessoas querendo dar palpite ou até mesmo dando açúcar pra o nosso bebê sem nossa permissão! Estou no caminho certo mas não está sendo fácil!!
ResponderExcluirGostaria de saber cm o que fritar o ovo pra minha filha de 3 anos. Óleo? Azeite? Óleo de canola. ..girassol.
ResponderExcluirKarine o que me diz da gelatina?
ResponderExcluirKarine o que me diz da gelatina?
ResponderExcluirMinha filha tem 1 ano e 5 meses e come gelatina direto
Olá ! Parabéns pelo texto e pelo blog! Gostei demais ! Gostaria de uma ajuda, meu bebê tem 5 e completará seis no final do mês. Penso em já introduzir a alimentação, já que retorno ao trabalho no mesmo período. Tenho muitas dúvidas pelo que começar o que oferecer e o que não oferecer, enfim... devo procurar uma nutricionista infantil ? Moro no interior de São Paulo. Por favor me dê algumas dicas ?
ResponderExcluirGente queria que esse texto estivesse num outdoor para todos lerem!!! Eu, inocente, achava que era óbvio para todos que açúcar para crianças pequenas não era bom, mas agora que tenho uma bebê de 1 ano e 5 meses percebo que parece que estamos numa guerra, lutando para o mínimo de hábitos saudáveis para nossos filhos!!!! Inclusive dentro da própria família! Avós, tios estão me crucificado porque pedi para não darem ovo de chocolate na Páscoa para minha pequena!!! Todos me bombardeando com perguntar do por quê não pode?? Não é óbvio??? Espero que esse texto se espalhe para me ajudar nessa batalha!!! Parabéns a autora e pesquisadora
ResponderExcluirGente queria que esse texto estivesse num outdoor para todos lerem!!! Eu, inocente, achava que era óbvio para todos que açúcar para crianças pequenas não era bom, mas agora que tenho uma bebê de 1 ano e 5 meses percebo que parece que estamos numa guerra, lutando para o mínimo de hábitos saudáveis para nossos filhos!!!! Inclusive dentro da própria família! Avós, tios estão me crucificado porque pedi para não darem ovo de chocolate na Páscoa para minha pequena!!! Todos me bombardeando com perguntar do por quê não pode?? Não é óbvio??? Espero que esse texto se espalhe para me ajudar nessa batalha!!! Parabéns a autora e pesquisadora
ResponderExcluirTambém não acho certo introduzir comidas com muito açúcar, como bolacha recheada. Não serve para nada, nem tem nutrientes. Outros alimentos podem ter o sabor doce sem excesso de açúcar.
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